Historicamente,
as universidades têm sido um local privilegiado de produção e transmissão de
conhecimento, baseado num modelo de racionalidade científica totalitária, visto
que negam o carácter racional das outras formas de conhecimento que não seguem
os seus princípios epistemológicos e regras metodológicas.
Atualmente, as universidades, mesmo as ditas africanas, que
na prática funcionam como departamentos universitários ocidentais em África, têm
reproduzido e preservado a colonialidade de poder e de saber. Colonialidade
esta que tem garantido, por um lado, a dominação (política, econômica, militar,
cultural e epistemológica) das potências ocidentais e, por outro, a miséria, a
balcanização, o genocídio e a deseducação do povo africano que, até
recentemente, se encontrava sob domínio colonial.
Ainda assim, mesmo dominadas pelo neoliberalismo e pelo
racismo epistêmico, várias têm sido as formas de transgressão forjadas. Dentre
elas podemos destacar as tentativas/pressões no sentido da descolonização dos
curricula ou até mesmo das universidades, na forma como elas se apresentam.
Exemplos disso podem ser observados em várias campanhas
populares protagonizadas por jovens na África do Sul, como o caso de
#RhodesMustFall# ou numa universidade ganesa, onde se pressionou (e se
conseguiu) pela retirada de uma estátua do líder indiano, Mahatma Gandhi. No
nosso contexto, fora do muro universitário formal, espaços de discussão
informal de conhecimentos como Djumbai Libertariu, Skola d’Afrika, Bantaba
Umoja, entre outros, seguem essas tendências.
Contudo, não obstante estas tentativas e iniciativas,
persistem dúvidas acerca de uma real descolonização das universidades e,
consequentemente, da produção e promoção de conhecimentos, de modo a fazer
surgir a valorização dos sistemas de conhecimentos africanos como pré-condição
para alcançarmos definitivamente uma Renascença Africana.
Neste sentido, a Universidadi Nhanha Bongolon, surge com os seguintes objetivos:
- Promoção de um espaço de diálogo e debate sobre assuntos locais, regionais e globais;
- Produção de uma cultura de reflexão, experimentação e auto-consciencialização;
- Criação de mecanismos de resgate de saberes e práticas potencialmente emancipatórios, desenvolvidos e experimentados tanto em Cabo Verde como no mundo africano global;
- Construção de estratégias que visam o desenvolvimento de uma efetiva luta intelectual e epistemológica, enquanto ferramenta de resistência contra o processo de (re)colonização.